quinta-feira, 21 de julho de 2011

O motivo da “revolta”

Há algum tempo venho ouvindo algumas pessoas me acusando de “ateu”, “descrente”, “ingrato”, “pérfido herético”, “apóstata” (tudo bem: esses dois últimos dizem respeito a minha veia dramática) etc. Resolvi escrever para tentar fazer meus acusadores compreenderem o motivo de minha atual posição. Não poucas dessas acusações são frutos da incapacidade de empatia e de se fazer o necessário movimento em direção ao outro para melhor compreendê-lo
De outra parte, esse texto se faz imprescindível para a compreensão do texto que virá a seguir. E somente com a leitura de ambos é que o mosaico do meu pensamento estará mais evidente e, portanto, passível de ser compreendido. Sei que nem todos se darão ao trabalho de enfrentar o enfado de tais leituras, mas àqueles que se dispuserem a tal, prometo revelar algo mais do que se passa em meu coração (e cabeça, of course).
Devo confessar que, após minha saída do seminário, a relação com o Cristianismo e, particularmente, com a igreja Católica tornou-se [digamos] difícil. Em várias ocasiões fui surpreendido com palavras duras e [por que não dizer?] agressivas. Pareciam brotar eivadas de mágoa e ferida profundas, que somente o tempo seria capaz de aplacar. Como legítimo exemplar humano não posso negar que tal se aproxime dos fatos (fiquei, sim, magoado e perdido com minha saída). Todavia, não é possível desconsiderar a justeza do que eu dizia, havendo destoado, em muitas ocasiões, somente o tom com que fora proferido.
Antes de prosseguir, faz-se mister que eu esclareça àqueles que me honram com a leitura do que escrevo sem, no entanto, que jamais tenham me conhecido. Sou um racionalista convicto, acredito (sim, estou falando de fé) que a razão humana é grandiosa (apesar de suas precariedades, posto que também humana). Meu contato com o mundo se dá sempre pelo viés racional: “perco” muito tempo tentando esquadrinhar o real e compreender o que se passa a meu redor. Quando algo é desvirtuado de sua natureza sinto-me profundamente desafiado, pois que sinto como se uma desordem pusesse o mundo de cabeça para baixo.
Retomando o que eu dizia mais acima, minhas críticas dirigidas ao cristianismo e sua roupagem católica basearam-se sempre naquilo que passo a chamar incestuosidade, um movimento percebido na história que levou o catolicismo para bem longe dos ensinamentos de Jesus Cristo, um movimento de corrupção dos princípios, iniciado nos idos do Imperador Constantino (mas disso falaremos adiante). O catolicismo corrompeu a lógica de Jesus Cristo, adulterando a própria essência de todo o proposto por ele. Desse modo, sinto-me desafiado, pois olho para aquilo que foi proposto por Cristo e comparando-o com aquilo que se tornou o cristianismo vejo um abismo. Mas o que se pode entender por “a essência do cristianismo”?
Elucidativo para responder a tal questão é o exemplo que, segundo os textos canônicos, teria sido deixado pelo próprio Jesus Cristo no episódio do Lava-pés (Evangelho de João 13, 1-17 – para acessar o texto clique aqui).
Resta algo ainda a ser dito? Penso que não. Jesus Cristo é, certamente, desconcertante. Não há muito que especular. Seu ensinamento é direto e feito do modo mais efetivo possível: através do exemplo. Penso que dessa singela passagem se possa extrair o que seja “a essência do cristianismo”: “entenderam o que acabei de fazer? Pois vão e façam o mesmo”.
No entanto, o movimento que se percebeu foi o de uma teologia que tanto mais se ocupava de justificar o que se não pode justificar, quanto mais a igreja se cercava de artifícios que a fizessem se perpetuar na história (sim, estou falando de mecanismos e estratégias de manutenção do poder). A teologia se construiu de modo a fortalecer dispositivos de controle que mantivessem o rebanho coeso e uniforme (contrariando sua própria natureza “católica”, do grego “para todos”). O derradeiro passo foi dado por Constantino quando estatizou a Igreja (sei que muitos dirão que o Imperador somente deu liberdade de culto à Igreja, mas a história lida de forma mais crítica leva a outra conclusão). Desde então o que se percebe é algo de incestuoso no relacionamento entre Igreja e Estado, com trocas de favorecimentos, ingerência da Igreja em questões civis etc.
O cristianismo, para manter sua atualidade, é convidado a retornar à simplicidade que o caracterizou desde o início. Que se esqueçam as quiméricas construções teológicas de tantos séculos, e que se volte o olhar àquele que deve ser todo o cristianismo: Jesus Cristo. Faz-se mister que o cristianismo se desvencilhe desse corpo burocrático e inerte que se tornou enquanto religião institucionalizada. Um retorno às fontes – como pensado no Vaticano II – pode significar o único modo de resgatar o que se perdeu na história: uma aproximação do projeto de Cristo que sempre foi o de tornar o homem o centro de sua economia da salvação. Não há código ou preceito moral que possa se comparar à incondicional dignidade da pessoa humana. Basta lembrar que o sacrifício da cruz não foi pela instituição da religião, mas antes, pela redenção do homem.
Penso que estando aclaradas as questões acima, seja possível passar ao próximo post (do qual este não foi mais que o intróito).
Agradeço pela paciência de me ter acompanhado até aqui...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

No Dia do Amigo

 Aqueles que me conhecem de perto (e sabem que não sou nada normal... he he) sabem o quanto não tenho apreço por datas pré-fabricadas. Às vezes me esforço, mas não adianta: não sou capaz de ter qualquer estima pelas mesmas.
Todavia, não me deixo enganar: sei que sou eu mesmo e o meu contrário... E por isso decidi render-me à presente data e escrever. Explico-me: continuo não vendo graça alguma numa data como a de hoje; mas aproveitarei tal ensejo para homenagear aquelas pessoas que independem do calendário para tornar minha vida mais completa, a saber, meus amigos e amigas.
Perguntei ao “Oráculo” qual o origem da comemoração nesta data. E tive a grata surpresa de saber que tudo se originou com um nosso “hermano” que escreveu quatro mil cartas para pessoas ao redor do mundo a fim de comemorar a chegada do homem à lua. Sua mensagem postulava que a união dos homens era suficiente para se alcançar qualquer objetivo que se propusesse. Bonito, não?
Agora deixando a amenidades inúteis de lado, partimos ao que de fato interessa: a figura do amigo. Do que se trata? (eita Filosofia besta que sempre se ocupa de inquirir o quid de cada coisa!). Não pretendo aqui escrever um tratado metafísico acerca da essência da amizade. Pretendo, antes, descrever alguns elementos que nos permitam acercar-se de tal fenômeno.
Amizade não tem explicação. Este é seu primeiro elemento inconteste. Os amigos se fazem da mesma matéria daquilo que costumamos chamar vida. Essa vida besta e sem sentido com a qual todos fomos presenteados. Essa vida que não se explica; antes se vive com a certeza de que nunca a teremos numa medida que baste.
A amizade nasce no limite. Somente quando ficamos diante de alguém, completamente despidos de todas as máscaras tecidas pela hipocrisia que parece ser o principal aspecto do que os modernos chamaram “contrato social”, é que o amigo se pode mostrar. É neste momento crucial que a amizade se pode fazer: quando somos acolhidos não pelo que somos, mas principalmente por aquilo que ainda não somos.
Amigo é espelho. É aquele que mostra a verdade acerca de nós. Não aquela verdade benigna que costumamos nutrir sobre nós mesmos, mas, sim, aquela verdade pedagógica que indica o caminho do crescimento. O olhar do amigo é performático: realiza em nós a certeza (que o amigo sempre tem) de que “há um jeito de ser bom de novo”.
Além de tudo isso, o amigo conserva em si a o eterno frescor escondido na permanente capacidade nos surpreender. Passam-se os anos, e um breve encontro é capaz de trazer a eternidade do amor para dentro de um instante. É nesses momentos que percebemos que os amigos se conservam os mesmos ainda que estejam tão mudados.
Por fim, amigo é aquele que luta por nós. Ninguém mais que o amigo sabe das mazelas e contradições que carregamos no coração. Mas basta que alguém levante a menor acusação contra nós para que o amigo se levante em nosso favor. E não há nada mais gratificante do que saber que amigos são para sempre.  Não importa o que aconteça: eles estarão sempre de braços abertos a nos esperar.
Encerro com a firme convicção de que minhas palavras nada mais são que pálida imagem da amizade. Abro espaço para que a arte traga a nós o inefável escondido em cada amigo e amiga:

Arvoreando
Flores são todas as cores
De tantos amores
Que eu nunca esqueci
Límpida passa no peito essa seiva
Verdade que me une a você
Livre de toda a maldade
Essa tal de amizade pra mim é raiz
Que deixa marcas no solo
É a beleza do colo, do ombro e do sim
Necessidade da terra
Presença
Essencial para a vida
A sua maneira de ser para mim
Já poda o que há de ruim
A minha vontade de ser pra você
Feito sombra, descanso sem fim
E se algum dia esquecer de mim
Só se lembre que eu tenho raiz
Só se lembre que estou por aqui
Necessidade da terra
Presença
Essencial para a vida
A sua maneira de ser para mim
Já poda o que há de ruim
A minha vontade de ser pra você
Feito sombra, descanso sem fim
E se algum dia esquecer de mim
Só se lembre que eu tenho raiz
Só se lembre que estou por aqui

quarta-feira, 6 de julho de 2011

No seu aniversário

Meu Bem,

Como você bem sabe, sou muito mais um homem das palavras perpetuadas no papel que daquelas faladas e que se perdem no sopro de um vento... Foi pensando nisso que, nesta data especial, decidi lhe dar algo que comunicasse um pouco mais de mim. E nada mais acertado do que oferecer aquilo que habita em mim a cada agonia sua por meu silêncio. Suplico a gentileza de recebê-las com a mesma benevolência com que sempre recebe a mim...
Há algum tempo eu vinha cultivando um pequeno rito que era o de escrever algum texto por ocasião do meu aniversário. Este ano resolvi tomar um caminho diferente, e modificar o rito até então cultivado. Minha opção foi a de escrever algo por ocasião de seu aniversário. Explico-me. Escrever sempre foi um ato de grande lucidez e catarse. Encarava-o como tão bem soube dizer um anônimo citado por Vinicius de Moraes: “escrevo para matar a morte”. Mas o que ficava sempre latente é que tal ato era, na verdade, um grito desesperado e engendrado pela certeza daquela – a morte – que morava em mim... Ainda outro dia você reparava que escrevo menos agora, e devo confessar o acerto de sua observação. Devo, todavia, explicar o motivo para que tal se dê: sinto-me, hoje, tão repleto de vida que já não me sinto movido à escrita por impulso da morte. E tudo isso tem absoluta e direta relação com você... Sua entrada em minha vida – de modo tão insano e contrário a tudo que eu sempre julguei ser – foi, certamente, dos maiores acontecimentos em minha pobre história. E não pretendo ser injusto com todas as pessoas que passaram por minha vida deixando suas amorosas marcas em tantos e diversos momentos. Posso, contudo, afirmar que foi sua chegada em minha vida o grande vetor para que eu pudesse acreditar – como nos mais bobinhos filmes românticos – ser possível a felicidade.
 Adoraria escrever mais neste momento, declarar todo o amor que sinto por você, mas eis que chega o momento de ir lhe encontrar e não há nada no mundo que eu deseje mais agora...
Prometo continuar amanhã...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Em meu aniversário...

Pus-me a pensar desde a tarde de ontem no que eu gostaria de publicar neste meu espaço no dia em que completo mais um ano vivido. E somente agora tornou-se claro. Gostaria de escrever sobre um filme do Clint Eastwood. Gosto muito dos filmes dele, mas um em especial marcou profundamente minha “maneira de colocar-me perante o mundo” (e estou falando de Filosofia). Trata-se de “Menina de Ouro” (no original, Million Dollar Baby), um filme magistral que trata de temas inerentes à vida humana (luta, família, redenção, perdão, escolha, distância), utilizando como metáfora (da vida) o boxe e que se constrói sobre o paradoxo – trabalho perfeitamente no esquema próprio da existência humana.
Entretanto, poderia surgir a questão: “Por que falar de um filme no dia do próprio aniversário?”. Peço a você, meu leitor, que exercite um pouco de sua paciência e caminhe comigo ao longo do que vai escrito na sequência.
Voltando no tempo, vinte e seis anos atrás, na noite de um sábado, eu vinha ao mundo. Havia começado a ser fabricado nove meses antes, numa tarde, sob o calor de Salvador, em dia de Parada Nacional (07 de setembro). E minha mãe sempre faz questão de ressaltar: “você é resultado de um momento de profundo amor”. Sou filho do amor...
E, ao introduzir minha mãe neste texto, aproximo-me do “acontecimento” do filme em questão na minha vida. Mas, antes, vale recordar quem é minha mãe para mim. Tudo começa com o meu aniversário de oito anos: ganhei de presente, em meu aniversário, a separação dos meus pais.
O que vi depois disso começou a construir verdadeiramente quem sou.
Minha mãe ficou profundamente abatida com todo aquele revés. Todavia, em vez de desanimar conseguiu se fortalecer (e não me perguntem a partir de qual motivação, pois eu não saberia responder) e lutou bravamente. Não foram poucas as derrotas que ela amargou nesse período: desemprego, fome, desespero etc.
É também desse período a lembrança mais amarga que carrego comigo. Num certo dia, tendo ido almoçar na casa dos meus bisavós, fui profundamente humilhado: ao pegar um pedaço de carne fui destratado por minha bisavó que, num gesto de avareza, disse que faltaria carne para um tio que ainda iria chegar. Imediatamente empurrei o prato à minha frente como que desprezando-lhe, ao que minha mãe sussurou em meu ouvido: “filho, você vai terminar seu prato porque em casa não há nada para comer”. E devo confessar: foi a comida mais amarga da minha vida. E foi nesse dia, aos nove anos de idade, que prometi a mim mesmo que eu daria certo nesta vida.
Um ano após esse episódio, minha mãe e eu fomos morar no interior. E então as coisas ficaram melhores e piores. Melhorou nossa condição de vida; piorou o relacionamento, pois eu estava entrando na adolescência. E as opções que eu tomei nesse período de minha vida foram as mais irracionais possíveis... Apesar de tudo o que vivi, do excesso de preocupações que causei, o amor de minha mãe mostrou-se sempre acima de tudo, numa palavra: incondicional. Infelizmente essa descoberta ocorreu há pouco tempo. Mas penso que foi necessário um longo processo de amadurecimento e auto-aceitação de minha parte para aceitar esse amor gratuito que minha mãe sempre dispensou a mim.
Mas, o que tem o filme do Clint a ver com tudo isso? Afinal, comecei o presente texto anunciando que se trataria de um comentário ao filme dele. Na verdade, tudo não passou de um pretexto. Queria mesmo falar de mim e do quanto o filme influenciou em minha construção. Por isso foi necessário falar tão demoradamente de minha mãe: ela é o meu alicerce. O homem que sou é reflexo do amor que ela depositou em mim... E o filme do Clint me ajudou a descobrir isso numa de suas cenas, quando o protagonista entrega um agasalho para a lutadora que ele treinara com as palavras “Mo Chuisle”, oriundas do gaélico, idioma utilizado pelos antigos povos celtas. E o significado só será revelado próximo ao desfecho do filme: Mo Chuisle significa “sangue do meu sangue”, “meu pulso”, podendo ser entendido como uma palavra de carinho (algo como “querido/a”). Pode até parecer absurdo, mas foi nesse exato momento que compreendi o papel fundamental da minha mãe em minha vida: descobri o orgulho de ser fruto dela, de ser sangue do sangue dela, de me reconhecer portador da força que a moveu a dar a volta para cima... Enfim, reconheci-me na minha mãe e em seu incondicional amor por mim.
Hoje, no dia do meu aniversário, quero comemorar a vida da minha mãe. Afinal, sei que sou a melhor parte do que ela é...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Flor de Cerejeira

Hoje gostaria de falar sobre a impermanência de todas as coisas...
Esse tema tem estado constantemente presente a mim desde o contato que tive com o filme "Hanami - Cerejeiras em flor". Esse filme deixou rastros profundos em mim... Senti-me docemente beijado pela morte, naquele êxtase melancólico que a beleza engendra em nós.
A efemeridade de tudo o que é deve levar-nos constantemente para dentro...
Descobrir que a verdadeira vida acontece dentro é um passo para alcançarmos o equilíbrio sempre almejado (e sempre distante). Deixemos agora que falem as flores...
Colhamos da efêmera beleza das flores de cerejeira a seiva da vida que pulsa em nós...
E recordemos o Quintana:

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre o tempo e o existir...

O texto que segue abaixo é uma correspondência que troquei com um grande amigo. Julguei ser pertinente a postagem da mesma, e faço agora mediante autorização desse amigo.

A decisão de viver o momento presente é, quiçá, uma das mais sábias que podemos tomar... A reflexão de Agostinho (que você tanto gosta) sobre o tempo caminha também nesse sentido: tudo está referido ao presente; passado e futuro só existem enquanto relacionados ao presente - o passado enquanto memória e o futuro enquanto projeto...
Não vejo porque deixar de pensar em nossa história... Ainda que nossas escolhas anteriores tenham nos levado a caminhos não muito agradáveis. Como já dizia Sartre: "não importa o que fizeram de nós; importa o que vamos fazer com aquilo que fizeram de nós". Essa é uma grande verdade.
O existencialismo me ensinou a compreender algo que Alberto Caeiro dizia com muita propriedade: "único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido oculto nenhum". E ainda o mesmo Caeiro: "as coisas não têm significado / têm existência". Aprendi que a vida desprovida de metafísica é mais "digerível". Não há coisas como finalidade ou sentido eterno para a vida humana. O que EXISTE é a vida que se realiza lançada num mundo absurdo (desprovido de significado). Cabe a cada um, por meio de seu existir (e existir implica em escolher), construir-se a si mesmo e encontrar espaços de sentido na "chacina do cotidiano" (Pondé).
A partir disso, cabe a cada homem construir sua história, produzindo significado para o mundo, e percebendo que a falta de sentido necessário para a vida não significa desolação ou desespero. Como Camus recordava com seu Sísifo, talvez a felicidade consista na própria realização da absurda vida humana. Ela é sua própria finalidade. E poderíamos chamar também Nietzsche e seu amor fati (como expressão de escolha por uma gratuita aceitação de tudo o que a vida nos proporciona) para essa nossa conversa.
Enfim, acho que já escrevi em demasia...
Saiba que admiro sua coragem de assumir o protagonismo de sua vida.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Acerca do sentido da vida II

Após um longo inverno estou de volta e ainda carregando comigo a questão que deixei em minha última postagem: em que repousaria o sentido da vida?
Estive durante todo esse tempo em que fiquei sem postar nada refletindo acerca de tal questionamento. Passo, agora, a apresentar em linhas gerais algo do que pensei nesses dias.
Antes de mais devo confessar que o grande Aristóteles acompanhou-me em todo esse percurso e, não poucas vezes, conferiu-me luz para as conclusões a que cheguei.
Primeiramente, levando em consideração cada ser humano em suas particularidades e aspectos comuns vamos descobrir que é próprio de cada homem buscar a felicidade. O que cada homem deseja visceralmente é ser feliz. Portanto, ainda que de forma incipiente e exclusivamente natural, o sentido da vida humana é a felicidade (levando-se em consideração que o sentido coincide com a finalidade).
Primeiramente me propus investigar se a felicidade não consistiria no que todos hoje entendem por sucesso. O sucesso parece ser uma posição que se alcança pelo lado de fora. É o momento em que algumas pessoas começam a invejar-nos não pelo que somos, mas pelo que temos. Certamente uma vida de aparências não conterá o sentido da vida.
Perguntei-me então se o a felicidade não consistiria no dinheiro, em possuir uma grande conta bancária. Todavia, de forma imediata veio à minha mente que algo que corra o risco de ser roubado não pode coincidir com o sentido da vida e a felicidade. Isso porque pensar em ter o sentido da vida roubado é pensar que outros possuem, ainda que de forma indireta, a decisão sobre o nosso viver ou morrer. E isso é evidentemente absurdo. Se o sentido repousasse em algo desse tipo simplesmente não haveria sentido.
Não gosto, porém, de alongar meus devaneios. Lanço mais uma vez a questão: em que repousaria o sentido da vida? Penso ter lançado pistas que indiquem em quê NÃO consiste o sentido da vida. E já foi lançada ainda que de forma incipiente a idéia de a felicidade seja o sentido da vida. Gastemos pois um pouco mais de tempo na resolução de uma tão urgente questão.
É a dúvida que nos motiva...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Acerca do sentido da vida

Domingo próximo passado estive na CIP – Congregação Israelita Paulista – para mais um ato em favor do diálogo católico-judaico. Foi simplesmente indescritível presenciar o coro dos monges beneditinos entoando árias sacras em companhia da cantora Fortuna.
Todavia, o que me leva a escrever é o reencontro que tive lá na CIP com uma pessoa formidável: um padre amigo, que havia sido meu professor nos tempos de seminário. Encontrei-me com ele e logo nos adiantamos a pôr o assunto em dia – ou seja, tratar daquelas banalidades comuns a todos os homens: tratar de como iam as coisas, quais eram as últimas novidades...
Nossa conversa foi, contudo, ficando mais e mais saborosa e rumando a um fechamento insuspeitável para ambas as partes. Foi então que chegamos àquela que pode ser considerada como sendo a questão mais fundamental a que um ser humano pode chegar: qual é o sentido da vida?

Peço a você, caro leitor, que não se apresse em responder tal indagação, tomando por banal ou simplória uma questão fundamental para o ser humano.

Em que repousaria o sentido da vida?

Deixarei por enquanto esse questionamento. Gostaria de convidar a você leitor para acompanhar-me nesse caminho de elucidação de tal questionamento.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Quando o assunto é amor...


Quando o assunto é amor não importa a idade que se tem, mas a idade que se sente.

Estive lendo Memórias de minhas putas tristes do grandioso Gabriel García Marquez. Trata-se de um livro fabuloso que narra a história de um nonagenário que descobre o amor ao se apaixonar por uma pequena de apenas catorze anos.
Já havia visto García Marquez discorrer sobre o amor em seu não menos espetacular O amor nos tempos do cólera, e devo dizer: ele não perdeu nada de seu vigor e da capacidade de esquadrinhar esse sentimento que nos faz humanos.
A história é resumida pelo próprio autor em seu início: 'No ano que completei noventa anos, quis presentear-me com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem'. A partir desse mote a história se constrói: um ancião que vivera toda sua vida perambulando de bordel em bordel, fugindo do amor, vai, finalmente, provar de tal sentimento ao contemplar uma adolescente de 14 anos adormecida.
O restante da história eu deixo para vocês lerem. Não percam a oportunidade de conhecer García Marquez. É simplesmente indescritível.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Epitáfio


Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

Composição: Sérgio Britto

Meditações sobre a morte

Ainda que o título deste post possa causar certa estranheza, é sobre a morte que quero falar hoje. Então prossigamos...
Hoje completo mais um ano vivido. Muito ocorreu nesse período de 365 dias que me separaram dos 23 anos e me trouxeram aos vinte e cinco. Sinto-me muito amadurecido por tudo o que se deu nesse intervalo de tempo: chegadas e partidas, encontros e despedidas, acertos e erros, vitórias e derrotas. E, inevitavelmente, recordo-me do que dissera certa vez John F. Kennedy sobre a maturidade: “o critério não é a idade, é o homem”. O que de fato confere a plena estatura a um homem? Seu sucesso? Sua riqueza? Seu saber? Tudo e nada disso ao mesmo tempo.
O homem é o conjunto de suas vivências e a decisão que toma em face de tudo isso. A riqueza de cada ser esconde-se nos vincos e marcas que o tempo vai paulatinamente esculpindo em sua fronte. O tempo é o único horizonte de sentido possível para a tão absurda existência humana. Por que vivemos? Para que existimos? Para realizar nossas aspirações, alcançar o sucesso, acumular riqueza...? O que é tudo isso em face da inexorável e inadiável morte? Sombra. Nada mais.
Vejamos o que nos diz a poesia:

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Seria então a morte a maior das desgraças humanas? Penso que não.
Na esteira de Heidegger, prefiro afirmar que a morte é a doadora de todo o sentido da finita existência humana. O ser humano – o único que existe – é ser-para-a-morte. Vive agora com os olhos no inevitável fim de tudo o que vive: a morte. Todavia, longe de uma conotação negativa ou pessimista, o que tal afirmação traz é uma novidade sem precedentes: o homem deve eivar de sentido toda sua ação para que a morte o encontre pleno do ser. Como já dizia uma canção: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã/porque se você parar pra pensar, na verdade não há.”
Ontem, na aula de Psicologia Científica, o professor Pe. Anselmo disse algo que calou profundamente em mim: “a morte re-significa a vida”. Assim procuro encará-la. É a morte que permite que façamos escolhas autênticas nesta vida. Seria leviano viver a vida como se no futuro houvesse ainda tempo para refazer tudo o que não foi feito da forma devida.
Hoje, dia em que completo vinte e cinco anos, sinto a morte mais próxima de mim. Isso me recorda a urgência que o amor imprime em nossa vida. Amar é o único modo de burlar o tempo e provar a eternidade ainda agora...
Estar perto de quem verdadeiramente amamos é o sentido maior que podemos encontrar nesta vida! Não troque isso por nada. Nada vale mais!

“Ama e faze o que queres” – S. Agostinho

domingo, 31 de maio de 2009

Segredos do Poder - Filme

Ontem à tarde tive a oportunidade de assistir a um bom filme: Segredos do Poder (Primary Colors).
Trata-se de um filme que mostra os bastidores da candidatura presindencial de um político que reúne em si a grandeza dos gestos humanos (a preocupação com a sorte do próximo) e a baixeza de não controlar seus vícios (trata-se de um mulherengo inveterado).
É um filme que fala dos jogos do poder, de como as coisas se dão na esfera política. Mostra também que existem pessoas que ainda vivem alimentadas por seus sonhos e ideais (basta pensar na personagem de Kathy Bates - que por sinal tem uma atuação admirável e fantástica).
Inevitavelmente fui remetido a Nicolau Maquiavel e a cisão entre ética e política que a partir da modernidade tornou-se regra.
Um filme que vale ser visto (principalmente porque alguns afirmam ter sido baseado na história de Bill Clinton) com senso crítico, para não cairmos na fábula de que os fins justificam os meios empregados para alcançá-lo (o argumento da personagem dizia que se não utilizasse meios "não-ortodoxos" não alcançaria o poder e não poderia empreender as reformas que sonhara...).
Trata-se de um filme que nos deve fazer despertar a consciência política e nosso papel de participação na transformação de nossa sociedade.

sábado, 30 de maio de 2009

Inicia-se um novo tempo...

Devo confessar que durante muito tempo resisti à idéia de ter/criar um blog. Sou um amante do que é feito à moda antiga: livros, cartas, palavra dada etc. Contudo, é inegável que com a voracidade com que Chronos tem devorado o tempo, e do modo como as coisas tem acontecido (freneticamente, digamos), percebo tornar-se um imperativo a necessidade de acessar e me utilizar das novas tecnologias que permitem à vida acontecer de modo mais onipresente e (porque não dizer) global.
Pretendo que esse espaço que ora está sendo criado seja local de fecundo diálogo entre pessoas, e que não sirva para "virtualizarmos" a riqueza das relações humanas. Sirva, antes, para encurtarmos os espaços e para que muitas pessoas caibam num só abraço (como fazia dizer a canção).
Para que as novas tecnologias sirvam à humanidade em sua tarefa de tornar-se mais humana...