segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre o tempo e o existir...

O texto que segue abaixo é uma correspondência que troquei com um grande amigo. Julguei ser pertinente a postagem da mesma, e faço agora mediante autorização desse amigo.

A decisão de viver o momento presente é, quiçá, uma das mais sábias que podemos tomar... A reflexão de Agostinho (que você tanto gosta) sobre o tempo caminha também nesse sentido: tudo está referido ao presente; passado e futuro só existem enquanto relacionados ao presente - o passado enquanto memória e o futuro enquanto projeto...
Não vejo porque deixar de pensar em nossa história... Ainda que nossas escolhas anteriores tenham nos levado a caminhos não muito agradáveis. Como já dizia Sartre: "não importa o que fizeram de nós; importa o que vamos fazer com aquilo que fizeram de nós". Essa é uma grande verdade.
O existencialismo me ensinou a compreender algo que Alberto Caeiro dizia com muita propriedade: "único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido oculto nenhum". E ainda o mesmo Caeiro: "as coisas não têm significado / têm existência". Aprendi que a vida desprovida de metafísica é mais "digerível". Não há coisas como finalidade ou sentido eterno para a vida humana. O que EXISTE é a vida que se realiza lançada num mundo absurdo (desprovido de significado). Cabe a cada um, por meio de seu existir (e existir implica em escolher), construir-se a si mesmo e encontrar espaços de sentido na "chacina do cotidiano" (Pondé).
A partir disso, cabe a cada homem construir sua história, produzindo significado para o mundo, e percebendo que a falta de sentido necessário para a vida não significa desolação ou desespero. Como Camus recordava com seu Sísifo, talvez a felicidade consista na própria realização da absurda vida humana. Ela é sua própria finalidade. E poderíamos chamar também Nietzsche e seu amor fati (como expressão de escolha por uma gratuita aceitação de tudo o que a vida nos proporciona) para essa nossa conversa.
Enfim, acho que já escrevi em demasia...
Saiba que admiro sua coragem de assumir o protagonismo de sua vida.